segunda-feira, 31 de outubro de 2016

sábado, 29 de outubro de 2016

Igreja Reformada, Sempre Reformando

Ecclesia reformata et semper reformanda secundum verbum Dei

A Igreja Reformada, sempre reformando de acordo com a Palavra de Deus
 

por Jorge Henrique Barro



Da Reforma Protestante do século XVI até os dias atuais continua ecoando o Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria. É imperioso que se reflita os propósitos da fidelização aos Cinco Solas nos dias atuais. 500 anos depois, confessando que somente a Escritura, Cristo, a Graça, a Fé e a Glória de Deus, podemos afirmar que temos uma Igreja Reformada hoje? Parece-me que uma das dificuldades da maioria das igrejas consideradas Reformadas é o sempre reformando. Essa tensão é real nos nossos dias atuais, pois o sempre reformandocontinua gerando divisões que longe estão de serem resolvidas. E por que? Porque muito do que se professa reformado está na forma, na estrutura e poder eclesiástico e na liturgia, entre outras.


A reforma necessária e urgente na vida das igrejas do movimento reformado é entender o propósito dos solas: a missão de Deus no mundo. É preciso começar com o sola gerador de todos os outros: o sola missio Dei. O sola Scriptura, sola Christus, sola Gratia, sola Fide e soli Deo Gloria não tem nenhum sentido sem a missão de Deus.

É justamente porque Deus tem uma missão no mundo que Ele nos proporcionou Sua revelação (Sola Scriptura). Qual o sentido da Escritura existir e de Deus querer se revelar nela se não sua própria missão? Assim, o próprio Cristo (Sola Christus) só veio ao mundo porque Deus, que tem uma missão para com mundo, amou o mundo. “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (2 Co 5:19). Tal situação pecaminosa do mundo exige a salvação mediada pela graça (Sola Gratia) e pela fé (Sola Fide). E tudo o que fazemos para Deus, como agentes/instrumentos de Sua missão, é alvo penúltimo da missão, pois o alvo último é sim a glória de Deus (Soli Deo Gloria) – “para que vejam as suas boas obras (alvo penúltimo) e glorifiquem ao Pai (alvo último) de vocês, que está nos céus” (Mt 5:16).

E ainda, é inconcebível ser uma igreja sempre reformada, de acordo com a Palavra de Deus (secundum verbum Dei), sem a participação do Espírito Santo! Por que até hoje ainda não adicionamos o Sola Espiritus Sancti nos solas? Será que existe uma mística em torno dos Cinco Solas? Incluir mais solas seria para algumas pessoas sinônimo de desrespeito para com a tradição reformada? Até quando imperará no movimento reformado a tendência do cristomonismo? Sem a presença ativa e dinâmica do Espírito Santo uma igreja jamais será sempre reformada!

Já passou o tempo de entender que o Sola Scriptura só existe porque Deus, por meio dela, revela seu propósito para com Sua criação. A principal reforma que as igrejas participantes do movimento reformado precisam hoje é se converter à missão de Deus. Ou isso ou um tradicionalismo engessado que caminha para a manutenção de uma estrutura eclesiástica que dá evidências claras de igrejas que não crescem e nem plantam outras.

Ou o movimento Reformado assume de vez sua vocação missional, cuja liderança pastoral está a serviço de capacitar a igreja para ser instrumento da missio Dei no mundo, ou seus relatórios anuais dos concílios contarão mais o número dos enterros e dos que saíram da igreja do que o número daqueles que foram alcançados pelo Sola Christus por meio do Sola Gratia e Fide.

Para que o movimento Reformado viva como expressão do Soli Deo Gloria precisa urgentemente voltar-se para a missio Dei. Nenhum movimento glorificará a Deus em sua plenitude se não for instrumento de Sua missão no mundo! A relevância e pertinência deste movimento depende disso.


Jorge Henrique Barro
Diretor de Desenvolvimento Institucional da Faculdade Teológica Sul Americana - filiada a Aliança Evangélica
Pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Existe abuso espiritual? Pastor diz que sim e mostra sete formas usadas por líderes cristãos

Ronald M. Enroth, pastor americano, resolveu acompanhar algumas pessoas que se desligaram da Jesus People USA, um grupo religioso dos Estados Unidos, e coletou informações sobre como os pastores faziam pressão psicológica para impedir que o povo deixassem sua congregação.
Ronald M. Enroth é professor de
Sociologia na Westmont Colleg
As atitudes usadas por eles foram marcadas como “abuso espiritual” e foram relatadas em um livro assinado por Ronald que também é sociólogo de religião. Apesar de ser uma pesquisa realizada nos Estados Unidos percebem que muitas dessas atitudes são aplicadas nas igrejas brasileiras para impedir que os membros se desliguem e partam para outros ministérios.
O pastor Enrolth listou no livro “Churches That Abuse”, lançado em 1991, sete formas de abuso espiritual praticado por igrejas evangélicas. Entre elas a distorção da Palavra, a criação de uma liderança autocrática, o sentimento de superioridade em relação ao outros grupos religiosos e o elitismo espiritual.
O pastor Serol, da Igreja Batista da Palavra Viva resumiu As Sete Regas do Abuso Espiritual em seu blog.
Confira:
1) Scripture Twisting (Distorção da Escritura): para defender os abusos usam de doutrinas do tipo “cobertura espiritual”, distorcem o sentido bíblico da autoridade e submissão, etc. Encontram justificativas para qualquer coisa. Estes grupos geralmente são fundamentalistas e superficiais em seu conhecimento bíblico. O que o líder ensina é aceito sem muito questionamento e nem é verificado nas Escrituras se as coisas são mesmo assim, ao contrario do bom exemplo dos bereanos que examinavam tudo o que Paulo lhes dizia.
2) Autocratic Leadership (liderança autocrática): discordar do líder é discordar de Deus. É pregado que devemos obedecer ao discipulador, mesmo que este esteja errado. Um dos “homens de Deus” de uma igreja diz que se jogaria na frente de um trem caso o “Líder” ordenasse, pois Deus faria um milagre para salvá-lo ou a hora dele tinha chegado. A hierarquia é em forma de pirâmide (às vezes citam o salmo 133 como base), e geralmente bastante rígida. Em muitos casos não é permitido chamar alguém com cargo importante pelo nome, (seria uma desonra) mas sim pelo cargo que ocupa, como por exemplo “pastor Fulano”, “bispo X”, “apostolo Y”, etc. Alguns afirmam crer em “teocracia” e se inspiram nos líderes do Antigo Testamento. Dizem que democracia é do demônio, até no nome.
3) Isolationism (Isolacionismo): o grupo possui um sentimento de superioridade. Acredita que possui a melhor revelação de Deus, a melhor visão, a melhor estratégia. Eu percebi que a relação com outros ministérios se da com o objetivo de divulgar a marca (nome da denominação), para levar avivamento para os outros ou para arranjar publico para eventos. O relacionamento com outros ministérios é desencorajado quando não proibido. Em alguns grupos no louvor são tocadas apenas músicas do próprio ministério.
4) Spiritual Elitism (Elitismo espiritual): é passada a idéia de que quanto maior o nível que uma pessoa se encontra na hierarquia da denominação, mais esta pessoa é espiritual, tem maior intimidade com Deus, conhece mais a Biblia, e até que possui mais poder espiritual (unção). Isso leva à busca por cargos. Quem esta em maior nível pode mandar nos que estão abaixo. Em algumas igrejas o número de discipulos ou de células é indicativo de espiritualidade. Em algumas igrejas existem camisetas para diferenciar aqueles que são discípulos do pastor. Quanto maior o serviço demonstrado à denominação, ou quanto maior a bajulação, mais rápida é a subida na hierarquia.
5) Regimentation of Life (controle da vida): quando os líderes, especialmente em grupos com discipulado, se metem em áreas particulares da vida das pessoas. Controlam com quem podem namorar, se podem ou não ir para a praia, se devem ou não se mudar, roupas que podem vestir, etc. É controlada inclusive a presença nos cultos. Faltar em algum evento pro motivos profissionais ou familiares é um pecado grave. Um pastor, discípulo direto do líder de uma denominação, chegou a oferecer atestados médicos falsos para que as pessoas pudessem participar de um evento, e meu amigo perdeu o emprego por discordar dessa imoralidade.
6) Disallowance of Dissent (rejeição de discordâncias): não existe espaço para o debate teológico. A interpretação seguida é a dos lideres. É praticamente a doutrina da infalibilidade papal. Qualquer critica é sinônimo de rebeldia, insubmissão, etc. Este é considerado um dos pecados mais graves. Outros pecados morais não recebem tal tratamento. Eu mesmo precisei ouvir xingamentos por mais de duas horas por discordar de posicionamentos políticos da denominação na qual congregava. Quem pensa diferente é convidado a se retirar. As denominações publicam as posições oficiais, que são consideradas, obviamente, as mais fiéis ao original. Os dogmas são sagrados.
7) Traumatic Departure (saída traumática): quem se desliga de um grupo destes geralmente sofre com acusações de rebeldia, de falta de visão, egoismo, preguiça, comodismo, etc. Os que permanecem no grupo são instruídos a evitar influências dos rebeldes, que são desmoralizados. Os desligamentos são tratados como uma limpeza que Deus fez, para provar quem é fiel ao sistema. Não compreendem como alguém pode decidir se desligar de algo que consideram ser visão de Deus. Assim, se desligar de um grupo destes é equivalente a se rebelar contra o chamado de Deus. Muitas vezes relacionamentos são cortados e até familias são prejudicadas apenas pelo fato de alguém não querer mais fazer parte do mesmo grupo ditatorial.
Obs: O livro foi escrito em 1991 mas as regras continuam bastante atuais e visíveis em muitos ministérios brasileiros
Texto extraído do blog Verbo com Vida

terça-feira, 25 de outubro de 2016

GUAMÁ. A TRISTE E DESCONHECIDA HISTÓRIA QUE DEU INÍCIO AO BAIRRO



A desconhecida história de um bairro que nasceu por estar tão longe do centro que permitia a segregação dos leprosos, quase amaldiçoados por toda uma sociedade. Lugar quase maldito, abrigou hospitais para infectoconstagiosos e cemitérios para deixar longe do cidadão saudável, as mazela das pragas que assolavam a Belém do século XIX. Quem diria que o populoso bairro do Guamá, nasceu a partir de um Leprosário.

Em 1755 a fazenda Tucunduba foi comprada pelos padres mercedários. Em 1794, foi doada a Santa Casa, depois da expulsão dos religiosos pelo Marquês de Pombal. No início do século XIX, nascia um abrigo para os hansenianos que se misturavam com a população sadia da capital. Era o primeiro leprosário da Amazônia: o “Hospício dos Lázaros do Tucunduba”.

Durante o século, foi preferencialmente, o abrigo escravos que contraiam lepra e eram abandonados nas ruas pelos senhores escravistas do Grão-Pará. A predominância escrava entre os leprosos do Tucunduba também pode ser constatada na lista de enfermos de 1854, ano em que, dos 74 recolhidos, 62 eram escravos, doença fortemente associada a condições sociais e higiênico-sanitárias desfavoráveis.

Como os negros ficavam excluídos da rede de solidariedade que tentava tratar enfermos brancos, acabavam confinado e condenados a este isolamento.

Reformado por Antônio Lemos em 1905, tentava deixar o espaço mais confortável para evitar a fugas constantes dos doentes, já depois do fim da escravidão. Mas a tentativa não apagou a fama de ser a “sala de espera da morte”, em jornais, artigos médicos e científicos.

O Guamá por estar distante e isolado do centro da cidade na época, era o lugar ideal para o “depósito de lixo social”, ou seja, um espaço que abrigaria pessoas consideradas indesejáveis, maléficas e inúteis á sociedade.

O “Hospício dos Lázaros do Tucunduba” existiu até 1938. Mas o Guamá abrigava mais Três hospitais de isolamento, os Hospitais: Domingos Freire, São Sebastião e São Roque (que se transformaram no hospital Universitário João de barros Barreto, para tratar doenças infectocontagiosas como varíola, febre amarela e tuberculose.

Além de hospitais de isolamento, no Guamá localizavam-se três cemitérios: um pequeno campo-santo, construído próximo ao Leprosário do Tucunduba, que servia para os enterramentos dos internos, desativados em 1887 o cemitério de Santa Isabel, inaugurado em 1878 e o cemitério da Ordem Terceira de são Francisco (1885) em frente ao Santa Isabel.

O isolamento foi gradativamente sendo eliminado com a ampliação da cidade e com o bairro ficando mais perto, manter a colônia era perigoso demais.

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Colaboração: José Maria Junior - Leia artigo em http://issuu.com/belemantiga/docs/asilo_do_tucunduba/0

Fontes:
http://www.padredanieledasamarate.it/brasil/daniel12.htm
http://www.readcube.com/articles/10.1590/S0104-59702012000500009
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702012000500009&script=sci_arttext http://trabalhosgratuitos.com/print/Fichamento-Livro-Entre-Dois-Tempos/101044.html


Extraído: Belem Antiga

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O BRASIL NÃO É MAIS UM CELEIRO MISSIONÁRIO

Por Leonardo Gonçalves

Conheci a Cristo no final dos anos 90. Minha experiência de conversão se deu em uma igreja batista recém-plantada na minha cidade. Meu batismo e minha experiência de discípulo começou no inicio do ano 2000, na igreja Assembleia de Deus. Eu vivi uma parte do movimento AD2000 (1) e da chamada  “Década da Colheita” (2), e de certa forma toda minha geração foi influenciada por estes movimentos.  Uma e outra vez, escutávamos a frase: “O Brasil é um grande celeiro de missionário”. Por nossa pequena igreja passavam alunos da “Missão Horizontes” falando sobre a janela 10/40 e sobre como o brasileiro gasta mais com Coca-cola do que com o Reino de Deus. Após o culto, nós doávamos aquilo que tínhamos para as missões. Lembro-me de um diácono pobre doando um relógio a um missionário que havia perdido o seu em uma viagem de barco na Amazônia. Lembro-me também de um amigo que constrangido pela necessidade da obra e sem nada para doar, tirou dos pés um par de tênis Nike e colocou sobre o altar, voltando para casa descalço depois do culto. A gente dava o que tinha, e não era por causa de alguma promessa de retorno financeiro (como nas campanhas dos televangelistas atuais), mas simplesmente por amor e desejo de ver o evangelho avançando entre as nações da terra. Os jovens da igreja (e eu era um deles) eram muito ativos: organizavam jograis e teatros com temas missionários, e muitos de nós queríamos ser pastores ou missionários. Hoje, vários daqueles jovens com os quais cresci são pastores, evangelistas, missionários, obreiros em suas igrejas locais, e estão envolvidos de alguma forma com a grande comissão.

UMA IGREJA QUE RESPIRAVA MISSOES

Mas eu não consigo escrever este texto sem lágrimas nos olhos. Agora mesmo, sinto o peito doer e meus olhos se enchem de água ao me lembrar daqueles dias quando a gente vivia de maneira tão intensa, organizávamos vigílias, acampamentos de oração, visitávamos, evangelizávamos de verdade. Conheço um jovem em Cristo que aos 16 anos tinha uma rotina invejável: Ele fazia semanalmente visitas no hospital da nossa pequena cidade, e saia dali direto para o asilo contrabandeando doces e bíblias para os anciãos com quem passava parte do seu domingo. Por volta das 4 horas da tarde saia dali com outros meninos da sua idade, numa kombi velha da wolksvagen para realizar visitas em uma comunidade rural e "cooperar" com os irmãos de lá. As vezes a Kombi não vinha, e eles faziam o trajeto de 18 quilômetros de bicicleta. Quando chegavam a cidade novamente, era para tomar um banho e ir ao culto, ansiosos por ouvir a Palavra pregada e dispostos a participar, seja cantando, pregando, limpando ou fazendo qualquer outra coisa na igreja local. Durante a semana, ele e outros eram voluntários no “Desafio Jovem Liberdade” – centro de recuperação para usuários de drogas – muitas vezes saindo do trabalho direto para lá, para ensinar violão, passar algum tempo de comunhão com os internos e pregar no culto da noite. Esses rapazes respiravam missões.  

Na época, surgiam seminários com cursos rápidos, em média 2 anos, em regime de internato, onde a ênfase não era apenas preparar teólogos, mas obreiros. Trabalhavam-se questões como caráter, perseverança, domínio próprio, obediência, e grande parte das disciplinas do curso eram de viés missionário. Éramos confrontados com as biografias de William Carey, David Brainerd, Hudson Taylor, Adoniran Judson, George Miller, e nos inspirávamos neles. Criticava-se o modelo de seminário que formava apenas teólogos e falava-se muito em vocação ministerial. Escutávamos uma e outra vez que ser pastor é um dom e não uma profissão, e que o ministério é muito mais dar do que receber. O ponto alto das aulas era quando por lá passava algum missionário em transito, e contava as experiências vividas naquela terra desconhecida. Lembro-me de ter ouvido um desses missionários falando sobre o país dos Incas, e de como me senti desafiado pelo testemunho daquele jovem obreiro. À noite, enquanto orava por aquele país, discerni claramente a voz de Deus falando fortemente ao meu coração: “Eu te levarei ao Peru!”. Cai em pranto, sentindo um misto de temor e imensa alegria, pelo peso da responsabilidade e pela honra recebida. Sai do meu país em 2003, quando ainda se vivia a ressaca destes movimentos.

JOVENS QUE NÃO ALMEJAM O MINISTERIO

Hoje a igreja evangélica definitivamente não é a mesma. Ela nem sequer se parece com aquela igreja de 15 anos atrás. Cada vez que viajo ao Brasil, fico absorto com a secularização cada vez maior da igreja. Vejo uma igreja rica, muito rica, mas tremendamente ensimesmada. Em círculos tradicionais e na ala pentecostal clássica, pouco se fala em evangelismo e missões. Já os neopentecostais distorceram o conceito de evangelismo e missões transformando a igreja em uma pirâmide e implementando visões celulares das mais absurdas, substituindo paixão missionária por obediência cega a um líder autoritário. Se antes os jovens desejavam o ministério, a geração atual foge dele. É comum ver rapazes de moças de vinte e poucos anos com altos salários, comprando carros importados, fundando empresas, empreendendo e ganhando muito dinheiro. Os pastores destas igrejas sofrem, pois tem que se desdobrar em mil ofícios para atender as necessidades do rebanho, já que ninguém quer se envolver no ministério e sacrificar as horas de descanso para cuidar das necessidades alheias. Alguns poucos ainda ousam se envolver com missões, mas raramente em tempo integral. Ao invés disso, doam parte das suas férias para servir em algum país exótico, e passam 4 ou 5 dias visitando alguma igreja local,  e o resto das férias em alguma praia paradisíaca do Índico ou do Pacífico. Não trabalham nada, mas tiram umas quinhentas fotos com crianças locais e chegam a suas igrejas com testemunhos fantasmagóricos acerca de como salvaram o mundo em seis dias e ensinaram os pastores e missionários locais a pastorearem suas igrejas. 

MISSIÓLOGOS DE INTERNET QUE NUNCA SE ENVOLVERAM COM MISSOES

O conceito de missão tem sido banalizado por uma geração hedonista mais preocupada com seus prazeres do que com glorificar o Cristo entre as nações. Para justificar sua falta de coragem para encarar o campo missionário, criam-se as mais distintas agencias missionárias, muitas das quais não enviam e nem sustentam nenhum missionário, dedicando-se apenas a recrutar voluntários para viagens de ferias, exatamente do tipo que mencionei no último parágrafo. Diga-se de passagem, o dinheiro gasto por uma equipe de voluntários de férias, se fosse doado integralmente a alguma missão séria que trabalhe entre os autóctones, daria para sustentar cerca de 10 obreiros durante um ano. Crer que 20 brasileiros em uma semana podem fazer um melhor trabalho que um obreiro nacional em um ano é um sofisma, mas parece ser este o pensamento predominante nessas missões recém-criadas no Brasil (as exceções conformam a regra).

Embora não estejamos mais tão engajados com missões transculturais, nunca tivemos tantos “ESPECIALISTAS” em missões! Meninos de vinte anos, com pouca ou nenhuma formação teológica, sem experiência de vida ou ministério e cujo maior esforço missionário foi falar de Jesus para o colega de classe, editam blogs e vlogs, dão opiniões e organizam conferencias missionárias onde eles mesmos são os preletores. Recentemente um desses palpiteiros da internet, um garoto de 20 anos, escreveu um livro sobre missões. Muita gente elogiou a atitude do rapaz e não encontrei ninguém, nem mesmo entre a velha guarda evangélica (que também é ativa nas redes sociais) para colocar freio na arrogância do moleque que escreveu suas 120 paginas sobre um assunto que ele nunca experimentou de fato. Há algum tempo recebi duas equipes de voluntários na cidade de Piura, onde desde 2008 temos desenvolvido alguns projetos missionários. Um dos rapazes que nos visitou, ainda nem tinha barba no rosto, mas logo se apresentou como consultor em missões. Segundo ele, varias igrejas no Brasil contam com seus conhecimentos de consultoria. Isso me parece estranho, se considerarmos que ele nunca foi missionário de fato, apenas participou de algumas palestras com ênfase na famigerada e pouco eficaz Missão Integral (3). Recebi deste garoto que nunca fez missões, diversos conselhos sobre como treinar meus obreiros e torná-los mais efetivos. Outros chegam já satanizando a cultura, tendo visões esquisitas acerca de demônios territoriais e correntes que estão aprisionando nossa igreja e missão, algo muito esquisito e sem bases bíblicas em minha opinião. 

UMA JUVENTUDE QUE QUER ENSINAR, MAS NÃO SE PRONTIFICA A APRENDER

Durante os dois últimos meses visitei varias igrejas no Brasil e por onde passei, desafiei pessoas para virem ao campo missionário no Peru, e o máximo que consegui foram uns garotos meio-hippies dispostos a vir salvar o mundo em uma semana e ensinar os pastores a pastorear suas igrejas. Todos os rapazes com quem falei queriam vir e ditar seminários, palestras, conferências, treinamento para pastores, e não atentavam para o ridículo das suas propostas, já que eles mesmos nunca pastorearam nem suas próprias famílias. No entanto, nenhum deles se mostrou disposto a passar ao menos um ano trabalhando de forma sistemática e fiel junto aos nativos, participando da vida, da luta e das dores do povo, compartilhando a comida e vivendo a verdadeira essência da missão. Todos queriam ensinar, ninguém estava disposto a viver. Todos queriam vir e impor; ninguém estava disposto a vir, viver e receber. Todos queriam formar obreiros, ninguém queria ser formado como obreiro. Todos queriam vir correndo e voltar; ninguém estava disposto a vir e permanecer. Cada um tinha uma visão diferente para a igreja peruana, mesmo sem ter conhecido de perto este campo missionário. Todos tinham receitas exatas para fortalecer o ministério local, mas ninguém queria servir no ministério. Muitos reis, nenhum servo. Como diria o pastor Kolenda, de saudosa memória, simplesmente “muito cacique para pouco índio”.

UMA IGREJA SECULARIZADA QUE NÃO AMA MISSOES

Não posso dizer exatamente onde foi que a igreja errou (não se preocupem, deve ter algum conferencista de vinte anos capaz de decifrar este mistério!). Porém, mesmo sem saber exatamente, acredito que alguns fatores são visíveis e fáceis de discernir: economia estável, bons empregos, oportunidade de fazer duas, três, quatro faculdades, anos de pregação antropocêntrica que exclui o sacrifício como parte da experiência cristã, tudo isso contribuiu para uma horrível secularização da igreja. Se eu fosse dispensacionalista, não teria dificuldade em aceitar que a igreja está vivendo a “Era de Laodicéia”. A igreja de Laodiceia e a igreja brasileira são irmãs: As duas são ricas materialmente, ensimesmadas, autossuficientes. As duas estão corroídas pelo pecado, empobrecidas de galardão e cegas quanto a sua real situação.  Se há algumas décadas dizia-se que o Brasil era um celeiro de missões, hoje tenho certeza que este título deve pertencer a algum outro país: China, Índia, Coreia do Sul, talvez... Mas definitivamente, esse título já não se pode aplicar ao Brasil.

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Leonardo Gonçalves é missionario há 11 anos. Neste período ajudou a plantar e consolidar igrejas no Brasil, Argentina (Patagonia e provincia de missiones), e no norte de Peru. Desde 2008 vive na cidade de Piura, envolvendo-se na plantação de 7 igrejas autóctones. O Projeto Piura sustenta hoje 6 obreiros autoctones e ajuda a 60 crianças provindas de comunidades carentes do Peru.

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NOTAS:

1. O Movimento Ano 2000 (AD 2000) surgiu de uma reunião em janeiro de 1989, em Singapura, onde foi realiazada uma Consulta Global de Evangelização Mundial para o ano 2000 e Além. Esta consulta deu origem ao movimento denominado AD 2000, cujo enfoque eram os povos não alcançados da chamada ‘janela 10/40’.


2. A Década da Colheita foi o resultado de um encontro de líderes das Assembleias de realizado nos Estados Unidos, em 1988. Foram também estabelecidas metas bem claras para a AD no Brasil, para serem alcançadas até o ano 2000: (1) Levantar um exército de três milhões de intercessores; (2) Ganhar 50 milhões de almas para Cristo; (3) Preparar 100 mil obreiros dispostos a trabalhar na seara do Mestre. (4) Estabelecer 50 mil novas igrejas em todo o Brasil; e (5) Enviar novos missionários para outras nações.

3. Não é que eu me oponha totalmente a Missão Integral. Minha crítica a este movimento pode ser resumida em poucos pontos: (1) A terminologia Missão Integral é, por si, uma redundância. Se é missão cristã, deve ser integral, e se não for integral (no sentido de total), não é missão. (2) Os promotores da Missão Integral no Brasil parecem se inspirar mais no marxismo do que na Bíblia. Um dos líderes desse movimento chega a apresentar o comunismo como uma ideia bíblica de comunidade. Ora, confundir comunidade cristã com uma ideologia que foi responsável por milhões de mortes no mundo, incluindo muitos cristãos, é uma boçalidade. (3) O discurso da Missão Integral tem servido de plataforma política para ideias esquerdistas, e sua super-ênfase no social tem levado alguns a pregar um conceito que beira a salvação pelas obras, algo abominável do ponto de vista bíblico. (4) Nunca vi um leprosário criado ou mantido por adeptos da Missão Integral.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Sobe o balanço oficial de mortos no Haiti por furacão Matthew

Pessoas caminham por rua de Les Cayes, no Haiti, na segunda-feira (10). Cidade ficou devastada após a passagem do furacão Matthew  (Foto: Hector Retamal / AFP)Pessoas caminham por rua de Les Cayes, no Haiti, na segunda-feira (10). Cidade ficou devastada após a passagem do furacão Matthew (Foto: Hector Retamal / AFP)


O furacão Matthew deixou pelo menos 473 mortos durante sua passagem pelo Haiti na semana passada, segundo um balanço provisório oficial, divulgado nesta terça-feira (11) pela Defesa Civil. Desde domingo, vigora luto oficial de três dias no Haiti. Outro balanço, divulgado pela agência de notícias Reuters, aponta mil mortos, segundo autoridades locais.
O furacão é o mais forte a atingir o Caribe desde 2007, e foi justamente no Haiti que o Matthew causou mais destruição. O país mais pobre das Américas foi devastado por um terremoto em 2010 e até hoje ainda não se recuperou completamente.
O departamento (estado) de Grande Anse, que foi diretamente atingido pelo furacão, foi o mais afetado: as autoridades contabilizaram ali 244 mortos e 97 feridos. Segundo a Defesa Civil do Haiti, 75 pessoas continuam desaparecidas e há mais de 300 feridos em todo o país.
A contagem anterior, apresentada na manhã da última segunda-feira, tinha reportado pelo menos 372 mortos.
Desabrigados
Mais de 175 mil haitianos permanecem refugiados em abrigos provisórios, montados em muitas escolas, atrasando o retorno às aulas de 100 mil crianças, como estava previsto pelo ministério da Educação.

Toda a parte sul do país ficou alagada pelas chuvas torrenciais e afetada por fortes ventos que castigaram durante várias horas a região. Matthew tocou o solo com força de categoria 4 e avançava com ventos de 230 k/h.

Além da destruição, as autoridades e organizações humanitárias temem um importante recrudescimento do cólera por causa das grandes inundações e da falta de acesso à água potável e produtos de higiene nas regiões afetadas.

Tratamento de água

Duas estações de tratamento de água potável foram entregues nesta terça-feira pela manhã em Porto Príncipe, como parte do primeiro carregamento de ajuda humanitária enviada pela França. O avião levava 69 toneladas de ajuda, além de medicamentos e kits contra a cólera.

"Será a Dinepa (Direção Nacional de Água Potável e Saneamento) que definirá as áreas onde serão instaladas essas estações", explicou à agência AFP Elisabeth Beton-Delègue, embaixadora da França no Haiti.
"O objetivo da segunda fase agora é sua disponibilização: há 60 agentes de segurança civil para verificar a montagem e manutenção destas estações de emergência, que não ficarão no país, mas servem para fazer a transição", afirmou a diplomata.

Enviar as estações, que podem produzir cada uma 250 metros cúbicos de água potável por dia, é um grande desafio: cada equipamento pesa sete toneladas e a via aérea é a única solução levando em conta as dificuldades de acesso às zonas mais devastadas.

A lenta disponibilização da ajuda enfureceu alguns habitantes das áreas isoladas. Muitos comboios humanitários foram bloqueados pelas barricadas feitas por moradores na avenida nacional que atravessa a ilha sul.

Além da necessidade de ajuda humanitária de emergência, a passagem do furacão Matthew obrigou os países estrangeiros a revisar seus programas de cooperação existentes. A França anunciou que desbloqueou 150 mil euros suplementares a título de ajuda humanitária para o Haiti.



Doe para a Visão Mundial e ajude a esperança continuar viva: http://doe.vc/haiti

domingo, 9 de outubro de 2016

A Tatuagem e a Igreja de Cristo

Nos últimos três anos, a prática de tatuar o corpo tem se tornado cada vez mais popular. Tudo indica que esta moda veio para ficar. É fato que, mais e mais, receberemos visitantes e novos membros com tatuagens, e algumas bem místicas e mundanas! Além do mais, pressinto que já temos alguns membros sendo atraídos por essa ideia, pensando em tatuar um verso bíblico, uma palavra hebraica ou uma imagem do Cavaleiro no Cavalo Branco de Apocalipse 19 (que tinha escrito em sua coxa: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores). Sei que esta não é uma questão crucial para o evangelho e a igreja de Cristo.  Porém, é algo que incomoda alguns e pode se tornar motivo de discórdia entre os irmãos. Como lidar com esses dilemas? Como preparar a igreja para lidar sabiamente com esta questão? Após orar, pesquisar e pensar sobre este assunto, cheguei às seguintes conclusões, que nas próximas linhas compartilho com o leitor.
Primeiro: Precisamos Ensinar o que a Bíblia diz!
Em Levítico 19:28, a Palavra diz: "Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR".  À primeira vista, esta palavra parece resolver a questão, parece dizer: o cristão não deve fazer nenhuma marca no corpo; tatuagem é pecado. Porém, o contexto revela que o motivo desta proibição era evitar que os hebreus se identificassem com a idolatria dos caldeus. Como parte de seus rituais aos falsos deuses, os caldeus usavam lâminas afiadas para marcar o corpo. Essas marcas, ou cicatrizes, estavam diretamente relacionadas com a idolatria e culto pagão. Essa orientação era tão específica que, nos versos anteriores, Deus também proíbe outras práticas, tais como: adivinhação e feitiçaria (26). O cortar o cabelo dos lados da cabeça (deixando um tufo de cabelo no meio da cabeça) e o aparar as pontas da barba de uma maneira específica (27) - tudo estava relacionado com os rituais pagãos. (Andrew A. Bonar, A Commentary on Leviticus, The Banner of Truth Trust, Carlisle. Pensylvania, USA. Pg. 352)
Sim, acredito que este texto fala contra o uso de tatuagens ou qualquer outra prática que nos identifique com algum tipo de paganismo, idolatria, imoralidade ou tribo anticristã. Porém, não podemos aplicar este texto contra a pratica da tatuagem de nossos dias, pois os tempos passaram e a conotação mudou. Hoje, a grande maioria daqueles que se tatuam não o fazem por motivos espirituais ou religiosos, mas meramente estético/ decorativo (assim como a maioria das mulheres furam suas orelhas e usam brincos). Sendo assim, esta prática acaba enquadrando-se dentro daquelas questões relacionadas à liberdade cristã (Rm 14 e I Co 6:12).
Segundo: Precisamos Aplicar os princípios de Romanos 14 e I Coríntios 6:12
Usando os princípios destes dois textos, devemos orientar o cristão que considera fazer uma tatuagem, a fazer a seguinte autoavaliação:
  1. Será que esta tatuagem irá glorificar o Senhor Jesus? Será que ela irá promover a minha pessoa ou a pessoa Dele? (6-8)
  2. Será que esta tatuagem irá edificar os meus irmãos? Será que ela não irá entristecer ou escandalizar meus pais ou irmãos mais fracos? (15-21 e 15:1-2)
  3. Tenho plena convicção em minha consciência de que isto agrada a Deus? (leia versos 22-23)
  4. Será que isto não irá me dominar? (I Co 6:12) Esta é uma pergunta muito pertinente, porque vemos que muitos não conseguem se contentar com uma ou duas tatuagens, porém, como que numa obsessão, vão cobrindo o corpo com desenhos e mensagens.

Terceiro: Precisamos Ajudar as pessoas a considerar a questão
Os meios de comunicação não ensinam nossos membros a pensar. Nossa cultura promove o princípio da ética inconsequente, que diz: Siga o seu coração! Faça o que der na sua cabeça!  Por isso, cabe aos pastores seguir o exemplo do Mestre que desafiava as pessoas a parar, observar, considerar e decidir (Mateus 6:25-32). A Bíblia diz que devemos viver com sabedoria (Pv 24:3). Por isso, precisamos ajudar aqueles que estão considerando fazer uma tatuagem a parar e pensar no seguinte: O que será que o bom senso e os fatos dizem a respeito desta prática? Abaixo, seguem dois fatos muito importantes.
  1. Muitos se arrependem de terem feito uma tatuagem. Um estudo realizado pela Associação dos Dermatologistas Britânicos revelou que um terço dos ingleses que se tatuam se arrependem de terem feito isto. Nos Estados Unidos, na cidade de Pittsburgh, uma clínica especializada em tratamento dermatológico a laser diz que, nos últimos anos, a procura pela remoção de tatuagens cresceu em 50 por cento! E que este processo é longo, doloroso e caro. (www.hersutah.com, artigo escrito por Peter Sullivan, publicado no Pittsburgh Post-Gazette em 1 de Agosto de 2012)
  2. A tatuagem cria uma barreira social desnecessária. Muitas pessoas veem com desconfiança alguém com uma tatuagem. Por isso, uma tatuagem pode custar uma boa amizade, namoro, emprego, oportunidade comercial ou, pior, a oportunidade evangelística ou ministerial. Dr. Michael R. Mantell disse: "O mundo está dividido em dois tipos de pessoas: aqueles que têm tatuagem e aqueles que têm medo das pessoas tatuadas. Honestamente, eu fui criado entre este segundo grupo. Afinal de contas, quem eram as pessoas que usavam tatuagem em Newark, New Jersey, onde cresci? Marinheiros, criminosos, membros de seitas estranhas, roqueiros e gente ruim." (San Diego Magazine, Agosto de 2009, A Psicologia da Tatuagem – www.sandiegomagazine.com)

Quarto: Precisamos Preparar a igreja para amar os tatuados!
Como já disse no início deste artigo: nos últimos anos a prática de tatuar o corpo tem se tornado cada vez mais popular. Tudo indica que esta moda veio para ficar.  Mais e mais receberemos visitantes e novos membros com tatuagens bem místicas e mundanas. A igreja precisa ser preparada para receber os visitantes tatuados.  Assim como Jesus recebia e até comia e bebia com os publicanos e pecadores, nós devemos receber os tatuados no amor de Cristo. E, caso Deus os alcance com Sua graça é obvio que devem ser integrados ao corpo de Cristo sem nenhuma reserva. Para isto, precisamos ajudar os membros da igreja, especialmente os mais preconceituosos, a buscarem em Deus sabedoria e amor para superar suas fraquezas, e aprender a ver as pessoas como Deus vê (I Samuel 16:7); aprender a ver, por trás das tatuagens, uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus, ver uma alma que vale mais do que o mundo inteiro. Que Deus nos ajude a fazer tudo isto pela Sua graça, para Sua glória!
Sillas Campos
Sillas Campos
Sillas Campos é pastor da Igreja Batista Central de Campinas (SP). Formado em Teologia pelo San Diego Christian College (EUA) e mestrando em Teologia pela Liberty University.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A Reconciliação e o Mistério do perdão triangular

Por Rubem Amorese

O APÓSTOLO PAULO nos informa que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo e que nos deu o ministério da reconciliação, fazendo-nos seus auxiliares nessa missão gigantesca (2 Co 5.18-20).


Em que consiste essa comissão? Como cumpri-la, se nem sequer compreendemos seus mecanismos?

Pensei em puxar o fio da meada investigando o mistério da graça de Deus, mas achei a tarefa difícil demais. Optei, então, por partir das nossas próprias experiências, com o auxílio da Palavra.

Eis uma lição prática, de Jesus: “Deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta” (Mt 5.24).

Sempre reverente diante do mistério, gostaria de extrair três lições dos dois textos bíblicos mencionados. E depois refletir sobre elas.

A primeira lição é que Deus se envolve com as brigas de seus filhos. A tal ponto que toda ira, separação ou ruptura assumem
uma dimensão triangular: eu, meu irmão (ou inimigo) e Deus. “Quer me agradar? Então vá e se acerte com seu irmão; então
volte e me ofereça esse gesto. E isso me será agradável”.

A segunda é que tanto o “devedor” quanto o “credor” estão envolvidos nesse triângulo, sem que o comportamento de um seja condição para o do outro. A um Deus diz: “Deixa no altar a tua oferta e vai procurar teu irmão”; a outro diz: “Se teu irmão te procurar, arrependido... perdoa”. Mais ainda: “Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer... abençoa”.

E a terceira lição é: quando Jesus me diz para deixar no altar minha oferta e procurar meu irmão, não esclarece se vou na condição de “devedor” ou de “credor”. Se eu me lembrar que ofendi meu irmão, devo procurá-lo para pedir-lhe perdão; mas o que faço se me considero “credor”? Devo procurá-lo, mesmo assim? Nesse momento, me vem à mente nosso exemplo maior. Não foi isso que Deus, em Cristo, fez? (Fl 2.7). Na encarnação, o ofendido nasceu, como criança, entre seus ofensores. E seu ministério entre nós envolveu o bater às portas...

Porém – dirá você –, e se aquele a quem ofendi nem me receber? Ou se meu ofensor me disser que nada me deve? E se eu achar que não devo nada ao irmão que me procura dizendo que o ofendi?

Sugiro que, neste momento, alcemos voo da fria mecânica do perdão para a dimensão da graça e do poder de Deus. Aqui, a triangulação se torna essencial. E a resposta que encontro a essas perguntas é uma só: oração. Passo a orar pelo irmão a quem ofendi, ou pelo irmão que me ofendeu, ou mesmo pelo irmão que diz que eu o ofendi. Oro para abençoar. Passo a orar insistentemente, inclusive por mim mesmo, pedindo que Deus me dê condições de prosseguir.

Primeiro, peço o bem; em seguida, desejo o bem; e, finalmente, disponho-me a ser agente ou canal desse bem. Eis uma progressão emocional misteriosa. A princípio, cheia de impossibilidades Contudo, prossigo em obediente oração. Se meu irmão não me perdoa, vou a Deus e oro por ele; se meu inimigo não me recebe, diante de Deus lhe ofereço “perdão liminar” (perdão a quem não o pediu). O resultado de tudo isso é o triângulo funcionando; e o ministério da reconciliação em curso.
“Mas nada mudou! Eu orei tanto...” – alguém poderia dizer. Nada mesmo? Observe melhor seu coração. E veja o que Deus já fez.

Texto retirado da edição 338 da revista Ultimato.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ouvidos bem abertos e boca bem fechada

por Elben César

"Lembrem disto, meus queridos irmãos: cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva"– Tg 1.19

O QUE É MAIS FÁCIL, abrir os ouvidos ou a boca? O que deve vir primeiro, o ouvir ou o falar? Qual destas partes do corpo humano é mais importante: os ouvidos ou a língua?

A precipitação é mais um problema da fala do que da audição. Prático como demonstra ser em toda a carta, Tiago aconselha: cada um de vocês esteja mais pronto para ouvir do que para falar, seja mais rápido no ouvir e mais lerdo no falar, aprendam a primeiro ouvir e depois falar. É preciso disciplinar-se quanto a isso.

O controle da língua já havia sido prescrito no livro de Provérbios: “Quanto mais você fala, mais perto está de pecar; se você é sábio, controla sua língua” (10.19) e “Quem toma cuidado com o que diz está protegendo a sua própria vida, mas quem fala demais destrói a si mesmo” (13.3).

Mas Tiago foi mais longe: é para ser lento para falar e lento para ter raiva. Uma coisa e outra. Essa frase pode ser traduzida assim: “todo homem deve ser pronto para ouvir, ponderado no falar e moroso em se irar” (HR). O crente não deve acender o pavio da cólera, não deve provocar a ira numa desastrosa explosão de gênio, não deve abrir a válvula da raiva. Quando dominado pela ira, a primeira reação do ser humano geralmente é gritar; só depois ele toma outras providências, cada vez mais drásticas.

Controlando a língua, ele controla a ira. Vem a propósito o conselho de Paulo: “Se vocês ficarem com raiva, não deixem que isso faça com que pequem e não fiquem o dia inteiro com raiva” (Ef 4: 26). Mais à frente o apóstolo insiste: “Abandonem toda amargura, todo ódio e toda raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades!” (Ef 4.31). Os chamados “acessos de raiva” são obras da carne (Gl 5.20). Enquanto a ira não for embora, é de todo
prudente ficar de boca fechada. A língua amarrada faz mais do que a língua solta!

Texto retirado de Refeições Diárias com os Discípulos, p. 33.