quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Reflexões sobre plantio de igrejas

Por Rodrygo Gonçalves

Plantar igrejas é um termo praticamente esquecido, não se fala em enviar pessoas onde o evangelho de Cristo não é conhecido (Rm 15: 20), pelo contrario, preferimos “aumentar” nossas igrejas, comprando os terrenos e casas ao lado, sempre aumentando a igreja local e, quando se envia, envia pessoas por suas habilidades e não por direção do Espírito Santo ou se cobra excessivamente resultados numéricos (isso quando não se impõe um método de crescimento rápido) e, se não alcançarem a meta, o ministério não é visto como “abençoado”.

No livro de atos vemos um maravilhoso exemplo de como deve ser o processo de escolha de uma pessoa para ser um plantador de igrejas:

“E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (Atos 13:1-3)

Para essa escolha apenas um quesito foi levado em consideração: A Separação do ministro pelo Espírito Santo! Não houve processo de escolha baseado nas habilidades, no tempo de cristão, no histórico de cargos e assim por diante... quem escolheu foi o Espírito Santo, os líderes por um tempo de jejum e oração buscaram ouvir e obedecer a voz do Espírito de Deus. Não houve período de treinamento ou testes, eles “ouviram, jejuaram e oraram”, impuseram as mãos e os enviaram – Calma! Não estou defendendo o enviar pessoas de qualquer jeito. Já me explicarei...

Algo que não pode passar despercebido é o fato de que havia cinco líderes na igreja de Antioquia, sendo que os escolhidos pelo Espírito Santo não foram membros comuns da igreja, mas dois dentre os cinco líderes. Não foi lhes enviado o “resto” (pessoas sem unção e qualificação) para o plantio de igrejas, portanto não precisava de testes, treinamento, seja lá o que for. Estes eram o que a igreja tinha de melhor! Não se importavam em “perder” parte de seus líderes, só se interessavam pelo desejo de Deus em salvar vidas.

A busca desenfreada por resultados é uma herança do capitalismo que tem se agravado muito nesta geração “faste food” em que tudo tem que acontecer rápido, e quando não acontece não é “frutífero”... Ministérios estão sendo “medidos” por seus resultados; isso tem frustrado muitos missionários que estão em lugares difíceis, tem feito igrejas deixarem de investir em missionários por este não apresentar os resultados esperados. Acredito que o missionário deva prestar contas do que tem acontecido, mas este precisa ser levado em consideração segundo o campo missionário que lhe foi dado.

Passei cerca de dois anos plantado uma igreja em uma comunidade ribeirinha localizada na ilha de Jutuba, ficando a uma hora de barco de Belém/PA. A única igreja evangélica que havia lá estava com suas portas fechadas a oito anos; começamos visitando cada morador até que fomos guiados pelo Espírito de Deus a reabrir as portas daquela igreja. Os resultados iniciais foram ótimos, todos o que haviam se afastado dos caminhos de Deus por conta do fechamento da igreja retornaram e recebemos alguns novos convertidos; começamos a nos dedicar ao discipulado e ensinamento da palavra com a esperança de que um dos nativos da ilha se levantasse para continuar a obra naquele lugar, mas infelizmente isso não aconteceu, fiquei bastante frustrado por ter se passado dois anos e não ter os resultados esperados, quando saímos de lá foi necessário enviar outro pastor para dar prosseguimento ao trabalho. Hoje entendo que não posso exigir dos ribeirinhos mais do que eles podem dar, no tempo certo se levantará entre eles alguém para continuar a missão.

Incomoda-me muito as “visões” de crescimento rápido de igrejas, vejo como uma “teologia enlatada” que usa métodos administrativos como sistema de pirâmide entre outros para acelerar o crescimento quantitativo. Sou bacharel em administração, mas fico frustrado ao ver nossas igrejas tratadas como empresas com suas metas e prazos definidos; é como se quiséssemos dizer ao Espírito Santo quando e como Ele tem que fazer.

Algo que me parece pertinente falar é sobre a motivação para se plantar igrejas hoje em dia, parece que a motivação não tem sido de evangelizar e sim o de “colonizar”, não se quer mais o cumprimento do "ide", mas a expansão de uma "placa".
Em Mateus 28: 19, 20 diz: 

“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

Na prática, o versículo que estão seguido é:

“Portanto ide, fazei discípulos para minha denominação, batizando-os em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo e do Apóstolo/Bispo/Missionário/Patriarca, colonizando-os e ensinando todos os seu mandamento, doutrinas, seu usos e costumes; e eis que eu estou convosco enquanto vocês derem o dízimo/ofertas/primícias.”

O plantio de igrejas precisa ser conforme a direção do Espírito de Deus, não por ganância humana (1 Pd 5: 2, 3), a única intenção tem que ser a proclamação do evangelho de Deus aos perdidos e nada mais.

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