sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Nem três, nem reis! A verdadeira história dos Magos



Por Hermes C. Fernandes 

 Figuras notórias nos cartões natalinos, os três reis magos exercem fascínio sobre os cristãos do mundo inteiro. Mas quem disse que eram “reis”? E mais: quem disse que eram “três”? Não há uma única passagem bíblica que afirme isso. Presume-se que eram três por serem três os presentes que trouxeram ao menino Jesus. Mas não há qualquer indício para que presumamos que eram reis. 

 Até nomes e nacionalidades já lhes foram atribuídos: Baltazar, o árabe; Belchior, o indiano; e Gaspar, o etíope. Geralmente, eles aparecem nos quadros natalinos ao redor da manjedoura, porém a Bíblia sugere que ao chegarem a Belém, Jesus já teria por volta de dois anos. 

 Se quisermos distinguir entre o que diz a tradição e o que dizem as Escrituras, nada melhor do que examinarmos o texto bíblico em busca de mais informações sobre esses personagens misteriosos, aproveitando para buscar edificação para nossas vidas. Afinal, nada do que está registrado na Bíblia tem outro propósito que não seja nos edificar. 
“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, vieram uns magos do Oriente à Jerusalém, e perguntavam: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo” (Mt.2:1-2). 
 Quem seriam os magos? Por que foram chamados assim? Pode-se conjecturar a partir de evidências extra-bíblicas. A palavra “magoi”, traduzida como “magos” sugere que eles pertenciam à casta sagrada dos Medos, sendo sacerdotes da Pérsia. A religião praticada por eles provavelmente era o Zoroastrismo, que proibia a feitiçaria; seu encontro com Jesus se deveu à sua astrologia e habilidade de interpretar sonhos. 
 Naquela época não havia distinção entre astronomia e astrologia. Todos os que se ocupavam a estudar os fenômenos celestes eram astrólogos. Portanto, a astrologia era considerada uma ciência. A aparição de um novo astro nos céus indicava que algo extraordinário estava por acontecer. 

 Acerca da misteriosa estrela, há várias explicações plausíveis:
  •  # A palavra “aster” pode significar um cometa. 
  •  # A estrela poderia ter sido a conjunção de Júpiter e Saturno (7 a.C.), ou de Júpiter e Venus (6 a.C.). Conjunção é quando dois astros parecem se fundir nos céus devido a um alinhamento raro, e assim, dão a impressão de serem um único astro, mais brilhante que todos à sua volta. 
  •  # Os Magos podem ter avistado uma super-nova, uma estrela que aumenta de repente em tamanho e brilho e em seguida, diminui novamente. Fenômeno muito raro de ser avistado à olho nu. 
 Estas teorias, embora razoáveis, deixam de lado a explicação que “a estrela que tinham visto no Oriente, ia adiante deles até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino”(Mt. 2:9). Que fenômeno celeste seria capaz de tal proeza? 

 Teria sido a Estrela de Belém um milagre, tal qual a coluna de fogo que permaneceu no arraial durante o Êxodo dos hebreus (Êx.13:21)? Ou como o resplendor de Deus que brilhou em torno dos pastores no campo (Lc.2:9), ou ainda como a luz proveniente do céu que apareceu a Saulo de Tarsos no caminho de Damasco (At.9:3)? 

 Tenha sido um fenômeno natural ou sobrenatural, o que importa que os magos se deixaram guiar por ele, e isso os levou até Jerusalém. Provavelmente, eles imaginaram que o novo rei teria nascido em Jerusalém. Que outro lugar haveria para que um monarca judeu nascesse do que na cidade dos reis? 

 Eles também achavam que todos estavam a par da boa notícia. Mas se equivocaram. Ninguém na cidade sabia que algo extraordinário havia acontecido. “Quando o rei Herodes ouviu isto, alarmou-se e com ele toda Jerusalém” (Mt.2:3). A voz dos magos ecoou pelas ruas e mercados da cidade santa. Mas em vez de alegrar-se com a notícia, todos se alarmaram. 

 Logo agora que todos já haviam se acostumado à idéia de terem Herodes, um edomita, como rei, a aparição de um novo rei subverteria a ordem, o Status Quo. E vale dizer que conquistar a simpatia dos judeus custou muito caro a Herodes. Entre os empreendimentos que visava conquistar a admiração dos judeus, estava a restauração do templo, tornando-o ainda mais suntuoso do que nos tempos áureos. 

 Herodes, agora, se sentia ameaçado. Ele sabia que não tinha o direito de sentar-se naquele trono. Ele não pertencia à linhagem de Davi. Sequer era judeu. Por isso, convocou “todos os principais sacerdotes, e os escribas do povo”, e “perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo”(v.4). 

 Os magos não possuíam todas as informações. Eles sabiam que o menino havia nascido, mas não tinham idéia de “onde”. Nada indica que eles conhecessem os textos sagrados, as profecias. O único livro de que dispunha para obter informações sobre o nascimento do Messias era o “livro da natureza”. A astrologia era a sua ciência. 

 Há que se ponderar aqui sobre algo: a ciência não responde a todas as nossas perguntas. Através da ciência podemos fazer uma leitura dos fenômenos naturais que nos forneceram indícios acerca de Deus. Há que se deduzir: se há leis que regem o Universo, logo, há por trás delas um Legislador. 

 Não há razão para que a fé e a ciência se ponham em trincheiras opostas. Cada uma se dispõe a responder a perguntas diferentes, que abarcam sua área de atuação. 

 Em se tratando da criação, por exemplo, podemos dizer que a ciência se propõe a responder a duas perguntas: “quando”, e “como”. Já a fé deve focalizar em outras questões: “quem”, e “pra quê”. 

 No caso que estamos examinando, a ciência levou os magos na direção certa, porém, faltava-lhes algumas informações que só a revelação contida na Palavra é capaz de suprir. 

 Herodes mandou chamar a “nata” da teologia de sua época. Ninguém conhecia tão bem as escrituras do que os sacerdotes e os escribas. Os primeiros, porque a liam constantemente. E os escribas porque a copiavam exaustivamente. 
 “Eles lhe responderam: Em Belém da Judéia, pois foi isto que o profeta escreveu: E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és o menor entre os governantes de Judá; pois de ti sairá um guia que apascentará o meu povo, Israel” (Mt.2:6).
 Embora buscasse na fonte certa a resposta, a motivação de Herodes era a pior possível. Como ele, há muitos em nossos dias que usam das Escrituras para alcançar objetivos espúrios, assim como há muitos cientistas, alguns deles ateístas, que buscam respostas com a melhor das intenções.  
 O texto prossegue, dizendo que “Herodes chamou em secreto os magos, inquiriu deles exatamente acerca do tempo em que a estrela aparecera” (v.7).

 Por que Herodes não buscou tal informação nas Escrituras? Simplesmente, porque elas não as contém. Assim também, é perda de tempo buscar certas informações nas páginas das Escrituras. A Bíblia jamais se preocupou em oferecer um cronograma exato de acontecimentos históricos. Dizer que a criação se deu há cerca de seis mil anos, por exemplo, é fazer uma leitura ingênua e equivocada do livro sagrado. 

 Depois de certificar-se do tempo em que a estrela aparecera, Herodes enviou-os a Belém, dizendo-lhes: “Ide e perguntai diligentemente pelo menino. Quando o achardes, avisai-me, para que eu também vá e o adore” (v.8). 

 Os meios usados por Herodes para obter informação sobre o nascimento do Messias eram legítimos e louváveis, porém suas motivações e seu objetivo eram deploráveis. Aqui encontramos o inverso do que foi proposto por Maquiavel: os meios justificando os fins! 
 “Tendo eles ouvido o rei, partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. Vendo eles a estrela, alegraram-se imensamente” (vv.9-10). 
 Por que, antes de chegarem a Belém, eles passaram por Jerusalém? Porque a estrela os guiara até lá. Porém, ela não se estagnou. Era apenas uma escala na viagem, não o destino final. A estrela só parou sobre o lugar onde estava o menino. 

 Imagine a alegria daqueles homens, depois de viajarem por cerca de 1200 milhas, empregando para isso cerca de doze meses de camelo em um trajeto por regiões inóspitas e desérticas do oriente médio. 

 Para a surpresa deles, o Messias anunciado pela estrela não fora encontrado nos palácios de Jerusalém, mas em uma modesta casa em Belém. 
 “Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se, o adoraram. Então, abrindo os seus tesouros, lhe apresentaram suas dádivas: ouro, incenso e mirra” (v.11). 
 De alguma maneira, eles chegaram à conclusão de que aquele menino não era apenas mais um monarca, mas o próprio Deus que Se fizera homem. Por isso, sentiram-se compungidos a se prostrar e adorá-Lo. 

 Chegara a hora de descarregar seus camelos. Em vez de fraldas, mamadeiras, chupetas, e outras coisas que geralmente se dá um nenê, eles presentearam ouro, incenso e mirra. 

 O incenso era considerado oferenda sagrada. Todas as religiões do Oriente o usam em seus rituais, inclusive o budismo. Ao presenteá-Lo com incenso, estavam reconhecendo Sua divindade. 

 A mirra era o perfume usado para embalsamar os mortos. Cada família deveria ter em casa mirra suficiente para um eventual falecimento de um ente. Portanto, quem Lhe presenteou com a mirra, estava profetizando a Sua morte em favor da humanidade. Ali estava alguém que nascera para morrer. Entretanto, aquela mirra jamais fora usada em Jesus. Quando Maria foi ao Seu túmulo para embalsamá-lo, Ele já havia ressuscitado. Além do mais, dias antes de morrer, outra Maria, irmã de Lázaro, se antecipou a derramar um perfume caríssimo sobre Jesus, preparando-o para o sepultamento, conforme Ele mesmo testificou. A propósito, aquele perfume era destinado a Lázaro, porém não foi usado nele, para ser usado em Jesus. Por isso, Lázaro cheirava mal depois de quatro dias de sepultamento. Não era comum que isso acontecesse a um judeu. Quanto à mirra com que fora presenteado pelos magos, provavelmente tenha sido usado em algum outro familiar de Jesus. De qualquer maneira, profetizava Sua morte. 

 E quanto ao ouro? Para saber a necessidade de se presentear o Messias com o mais precioso metal, precisamos avançar no texto: 
“E, tendo sido por divina revelação avisados em sonhos para que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho à sua terra. Tendo eles partido, o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito. Fica-te lá até que eu te avise, pois Herodes há de procurar o menino para o matar. Levantando-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe, e foi para o Egito. Ali ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta: Do Egito chamei o meu Filho. Então Herodes, vendo-se iludido pelos magos, irritou-se muito e mandou matar a todos os meninos de Belém, e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, segundo o tempo em que diligentemente inquirira dos magos” (vv.12-16). 

José era carpinteiro, e provavelmente tinha uma clientela em sua cidade. Deixá-la repentinamente para ir para um país estranho provavelmente seria dispendioso. Até que ele se firmasse profissionalmente no Egito, como ele poderia prover o sustento de sua família? Foi por isso, que Deus proveu todo aquele ouro através das mãos generosas dos magos.

 Nosso Deus é um Deus de provisão e não de improvisos. Ele conhece o coração dos homens, e sabe o que nos espera lá na frente. Antes que nos aconteça qualquer coisa, Ele sempre nos envia os proventos necessários. 

 Talvez José jamais tenha entendido o motivo do incenso e até da mirra, uma vez que jamais precisou ser usada em Jesus. Mas ele entendeu perfeitamente a razão pela qual Deus lhes enviara todo aquele ouro. 

 Mas se os magos houvessem descarregado seus camelos no palácio de Herodes? E aqui devemos ponderar: onde temos descarregado nossos camelos? Em que temos investido nossos haveres? Que tal como Deus usou os magos, sejamos usados por Ele para suprir as necessidades de Sua obra, em vez de investir em projetos megalomaníacos de quem usa as Escrituras em nome de uma agenda secreta e de motivações nem sempre louváveis. 

 Feliz Natal!

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