segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Crises pessoais e familiares


Todos nós enfrentamos crises – algumas pequenas, outras grandes, algumas duradouras outras breves, algumas conosco mesmo outras com outras pessoas, algumas são meio que previsíveis outras nem tanto, mas é certo que TODOS indistintamente enfrentamos crises, crises no casamento, na família, no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, na igreja...

Os chineses têm uma língua de símbolos – para a palavra crises eles têm uma junção de dois símbolos, o da OPORTUNIDADE e o do PERIGO. Pensando nesta forma sábia de encarar as crises, podemos então chegar à conclusão de que crises são oportunidades perigosas que nos abalam mostrando que nossa estrutura atual não é adequada.

O que seria apenas um problema ou um desafio se mostra uma crise quando enxergamos que não temos (ou achamos que não temos!) recursos EMOCIONAIS, ESPIRITUAIS, FINANCEIROS ou OUTROS PARA CONSEGUIR ADMINISTRAR BEM A SITUAÇÃO.

Existem várias maneiras de responder às CRISES que vem até nós e gostaria que analisássemos três delas a princípio:

I – Primeira maneira de responder a uma CRISE – aguentando a pressão
No primeiro momento da crise, enfrentamos de uma forma como alguém que está longe de casa, a pé e no meio do caminho uma chuva forte inicia-se e então decidimos andar indo pra casa, mesmo com a chuva e o vento forte batendo no rosto, olhando pra baixo, caminhando passo após passo, esperando que ao chegar em casa a crise passe, apesar de naquele momento estarmos congelando, frustrados, molhados, correndo risco de pegar uma gripe forte, mas nos apegamos ao fato de que se andarmos, mesmo em meio a tantas dificuldades ao chegarmos em casa estaremos bem.

Para isso nos apegamos a trechos bíblicos e talvez o mais usado para isso seja justamente o de Hebreus 12.1 e 2.

“...visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia e está assentado a direita do trono de Deus.”

Essas crises geralmente envolvem relacionamentos com pessoas e numa tendência de aguentar firme procuramos apoio em amigos, em Deus, nos apegamos as passagens bíblicas que podem nos dar consolo. Geralmente nestas horas encontramos com mais facilidades passagens que nos confortam e nos encorajam e nos mostram que estamos agindo corretamente, suportando tudo para no final termos a vitória.

Quando a crise não passa e então os problemas não desaparecem, os versículos parecem não ter mais a força de nos encorajar, os amigos não sabem mais o que dizer e parece que até Deus está tão longe que não conseguimos ouvir sua voz, abre-se a nossa frente dois tipos de caminho:

Retroceder ou Superar a Crise.

II – Segunda maneira de responder a uma CRISE – retrocedendo ou recuando
Algumas pessoas são gatos escaldados e fogem na hora que a crise se manifesta, outros, depois de muito sofrimento é que retrocedem ou recuam. Muitas pessoas retrocedem, voltam para trás. Abandonam a “fé” que tinham a convicção ou equilíbrio, a maturidade ou confiança que havia ganhado e voltam para um paradigma do passado, algo que servia na época, mas que já haviam deixado para trás. Estas pessoas, quando a crise passa, realmente estão piores do que quando a crise chegou. Pode ser que suas circunstâncias sejam piores como no caso de um casamento acabado, um emprego perdido ou uma grande perda financeira. Mas o que realmente importa é se a vida interior piorou, se a pessoa demora muito para recuperar sua fé, confiança, amor, esperança ou se às vezes nunca as recupera.

Podemos pensar em um texto que mostra justamente este tipo de pessoa, Hebreus 10.32-39

Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados. Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável. Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa.
Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará; todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.”
Essa não é uma prática solitária de pessoas que não “prestam”, mas os chamados “gigantes da fé” também dela sofreram. Vejamos:
a)   Abraão entrega sua mulher para Abimeleque para não correr o risco de ser morto por ele (Gênesis 20)
b)    Pedro negou a Jesus para não ser preso junto com ele e condenando a morte (Mateus 26.69-75)
c)    José (Gênesis 41 e42), ao encontrar com seus irmãos demonstra retrocesso na sua vida e não um homem perfeito, sofrido e calejado como parecia. Os nomes de seus dois filhos poderiam refletir que ele tinha já superado as crises de ter sido vendido por seus irmãos, de ter sido acusado e preso por causa da mulher de Potifar e de ter sido esquecido pelos seus companheiros de prisão.
i.)    Manassés significa: Deus me fez esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai.
ii.)    Efrain significa: Deus me fez prosperar na terra onde tenho sofrido.
Em José podemos encontrar algumas características de uma pessoa ferida que resolve recuar ou retroceder no meio da crise:
a)   Coloca uma máscara não se deixando reconhecer pelos seus irmãos que o feriram – Gênesis 42.7 em diante.
b)   Fala asperamente quando só é necessário falar palavras simples – Gênesis 42.7
c)   Lembranças e até sonhos são doloridos para ele – Gênesis 42.9
d)  Ele acusa (fazendo o papel de Satanás) porque se sente ferido e magoado não porque encontra falhas nos outros – Gênesis 42.9
e)  Não ouve o que não quer ouvir – só escuta o que quer para justificar suas atitudes – Gênesis 42.12
f)   Faz demandas, impondo suas perspectivas ou manipulando os outros para que façam o que ele quer – Gênesis 42.14-16
g)   Faz os outros sofrerem – Gênesis 42.17
h)   Se chora é um choro de tristeza segundo o mundo (II Coríntios 7.8-11) e não um choro que cura, que alivia – Gênesis 42.24

Crises que nos derrotam e derrotam até mesmo GIGANTES DA FÉ, como Abraão, Pedro, Davi e José, mas maior fato de tudo isso é que ele VOLTARAM de suas derrotas, pois, mais importante que a crise por que passaram é o que fizeram depois que o tempo delas passou.

III – Terceira maneira de responder a uma CRISE – superando
Relativamente poucas pessoas conseguem superar as crises. A maioria acha que está fazendo isso quando aguenta até as crises passarem. Mas elas não crescem, não são pessoas melhores, mais maduras, mais sábias ou mais equilibradas do que antes. Continuam as mesmas e por isso digo que na verdade, não superaram a crise, apenas sobreviveram a ela.

Quem supera uma crise é a pessoa que enxerga que Deus está agindo por meio da crise. Para ser honesto, a maioria de nós encara as crises muito mais sob a ótica do perigo, do que da oportunidade! Ao invés de simplesmente tolerar a crise, devemos procurar os propósitos de Deus no meio dela, as oportunidades que Ele está abrindo. Além de ser um mecanismo de defesa, quando fazemos isso e acabamos “descobrindo” grandes propósitos de Deus para que as pessoas ao nosso redor mudem. Quem verdadeiramente supera uma crise é aquele que descobre o que Deus está querendo fazer nele (Tg 1.2-5). Essa pessoa se quebranta e deixa Deus fazer plenamente Sua obra nela. Ela entrega a estrutura falida que não está conseguindo administrar a crise e pede para Deus lhe revelar uma nova estrutura interna, uma nova forma de enxergar a vida e especialmente os propósitos d’Ele.

Esta pessoa persevera não para simplesmente resistir até que a prova ou crise passe, mas persevera na luta com Deus, como Jacó (Gn 32.22-32), até que Deus toque nela de maneira que sua vida nunca mais seja a mesma.

“...ficando ele só e lutava com ele um homem, até ao romper do dia”
“...tocou-lhe a articulação da cocha
“...E o abençoou ali

Gênesis 32.22-32

Erik Erikson, Piaget ou Kohlberg (psicólogos) falam que todo ser humano passa por fases ou etapas e que cada uma delas é necessária à vida, porém em determinado ponto estas fases, mesmo que saudáveis, mostram-se inadequadas para novas realidades que devemos enfrentar. Então entramos num período de desequilíbrio (crise) para encontrarmos uma nova estrutura adequada, portanto o desequilíbrio é a porta para a oportunidade para o crescimento – é a “oportunidade perigosa” que chamamos de crise.

Quando não passamos por elas, e as superamos, não atentamos para o fato de ficarmos congelados, sem crescimento que Deus quer que tenhamos, indo em direção à Cristo – assim muitos de nós não estão dispostos a abrir mão de nossas estruturas, de nossos paradigmas ou de nossa cosmovisão – insistimos em ficar naquilo que fomos ensinados e perdemos a oportunidade perigosa de CRESCERMOS diante e para Deus – suportamos tudo ou mesmo retrocedemos ao invés de crescermos.

Oswald Chambers em seu livro devocional Tudo para Ele escreve:
                                                
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor - Isaías 6.1 A história da nossa experiência com Deus é freqüentemente a história da “morte do herói”. Muitas e muitas vezes Deus tem tido que afastar nossos amigos para colocar-se no lugar deles, e é aí que desfalecemos, falhamos e desanimamos. Aplique essa verdade à sua vida: no ano em que “morreu” aquele que representava para mim tudo o que Deus é – eu desisti de tudo? Adoeci? Fiquei desanimado? Ou – vi o Senhor? Minha visão de Deus depende do estado do meu caráter. O caráter determinará a revelação. Antes que eu possa dizer “Vi o Senhor”, é preciso que haja em meu caráter algo de Deus. Enquanto eu não nascer de novo e não começar a ver o Reino de Deus, verei as coisas apenas do ponto de vista dos meus preconceitos. Preciso submeter-me a uma remoção dos eventos externos, e de uma purificação interior.

É preciso que Deus ocupe o primeiro lugar, o segundo lugar, o terceiro lugar, etc., até que a nossa vida esteja fixamente voltada para ele, e ninguém mais tenha importância para nós. “Em todo o mundo, não há ninguém mais além de ti, meu Deus, ninguém mais além de ti!” Continue a pagar o preço. Mostre a Deus que você está disposto a viver de acordo com a visão. Eu me pergunto: “Qual esse preço?” Pode ser diferente para cada um de nós, mas de forma geral acho que tem a ver com colocar Deus em primeiro lugar e buscar a Ele acima de todas as coisas. Seja dentro da crise, seja quando não estou em crise. Crescer n’Ele, andar de glória em glória, o tempo todo!

Quando você enfrenta uma crise, não pense apenas em como sair dela ou como perseverar até ela passar, pense em superá-la, contorná-la para que seja uma oportunidade de crescimento, de quebrantamento, de ver a glória de Deus liberado em você e através de você. Quando outros ao seu redor passam por crises, não pense primeiro em como protegê-las ou como ajudá-las a escapar da crise. Pergunte para Deus o que Ele está fazendo e procure acompanhar os propósitos d’Ele para que essa pessoa possa deixar de ser vítima, superar a fase de sobrevivente e abraçar a vida como vencedor!

A superação de qualquer crise não se dá simplesmente pelas determinações pessoais ou espirituais, mas sim pelo processo de amadurecimento pessoal.

Esse é um processo de VIDA CRISTÃ e não uma parte do ministério.
Prof. Gedeon J Lidório Jr

Profa. Auriciene Araújo Lidório

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