sábado, 2 de maio de 2015

“sal da (para) terra” (Mt 5:13).

Analisando exegeticamente este versículo chegaremos a uma conclusão no mínimo espantosa. Vejamos: 

O sal, referindo-se provavelmente ao cloreto de sódio retirado de perto do Mar Morto, um pó branco que muitas vezes permanecia misturado a outros produtos, era conhecido de qualquer um dos ouvintes de Jesus. Fala-se muito das propriedades preservadoras do sal ou mesmo da função de dar sabor às comidas. O contexto da análise linguística, porém, sugere que antes de qualquer coisa se deve levar em conta a “propriedade estimulante do sal, como fertilizante. Esta ideia é mais edificante do que atrasar a putrefação. Jesus não veio para evitar que o mundo entrasse em putrefação, mas, sim, para salvá-lo (Jo 3: 17) e dar vida em abundância” (DITNT, 1983, p. 332-338). Encontramos ainda que o sal deve ser encarado aqui como “condimento que tem a função de ressaltar a qualidade do alimento ou do solo” (1983, p. 332-338). 

A melhor tradução da frase seria, portanto: “Vós sois o sal para a terra”, pois a terra (tes ges – grego Koinê) está como genitivo objetivo indicando que o sal da questão deve ser pensado como propriedade para a terra. A palavra terra (ge) aqui empregada denota mais a questão geográfica do que política e geralmente é utilizada para distinguir o céu (ouranos) da terra (ge), obviamente diferente de mundo (kosmos) onde a ênfase são as pessoas, ou o lugar de habitação delas, num significado mais religioso ou filosófico. 

Juan Mateos argumenta que moiranô (falando sobre o sal se tornar insosso) refere-se a Mateus 7:26, principalmente na questão de ser néscio aquele que ouve as palavras de Jesus e não as pratica. Assim, “a comunidade que em sua prática trai a mensagem não tem nenhuma razão de existir” (1983, p. 62-63). 

Orlando Boyer diz que Jesus “proferiu estas palavras afastado das multidões (cf Mt 5:1), mas com o alvo de abençoá-los por intermédio daqueles a quem ensinava” (1970, p. 84), seus discípulos. 

Sendo que Deus tem a sua missão (reinar soberano e absoluto, conforme a tríplice missão em Apocalipse) e tem um povo da Missão, seus discípulos, desde o princípio, quer seja na criação, no mandato cultural, nas alianças, no chamado de Abraão, na vinda de Jesus, na formação da Igreja ele continua querendo a mesma coisa: que nós, os que foram separados por ele e para ele e que somos constituídos de material diferente da terra que nos cerca (o sal é uma substância diferente da terra) precisamos exercer a função de salgar a terra, abençoando e não apenas dando sabor, ou preservando-a da podridão. É necessário ser mais positivo no alcance do sal para a terra, pois o que está implícito no texto é justamente a produção de vida que depende da utilização do sal corretamente, sem sujeiras que possam desqualificá-lo.  

Então, ser sal para a terra tem uma resignificação a ser feita: ser sal é ser mais que um pregador, é ser mais que um defensor da sã doutrina, é ser mais que um apologista de Deus, é ser mais que um denunciador profético dos males e corrupções do mundo, é ser mais, muito mais; é ser alguém comprometido com o Reino de Deus de maneira que as ações de salgar a terra perpassem a nossa própria conduta como servos do Reino e nossas ações sejam inclusivas e não exclusivas. É ser ativo no compromisso com a restauração da vida e não somente com a pregação de um evangelho alienante que só faz sentido dentro das quatro paredes das igrejas. É enxergar os sinais do reino de Deus, dentro e fora da igreja e persegui-los, e quando os alcançar promovê-los para que o Reino de Deus seja ampliado e as bênçãos deste reino alcancem o que Deus planejou alcançar deste o princípio: toda a sua criação sendo restaurada para a glória dele mesmo. Estas atitudes pressupõem para nós mais que simplesmente pregar o evangelho falando às pessoas ou ações/assistências sociais.


(parte integrante do livro “Missão Urbana Transformadora” – Gedeon J Lidório Jr e outros)

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